O fantástico desrespeito à classe médica homeopática - Jornal do CREMESP Teixeira MZ. O fantástico desrespeito à classe médica homeopática. Jornal do SIMESP 2004; 26: 39. Teixeira MZ. O fantástico desrespeito à classe médica homeopática. Jornal do CREMESP 2004; 202: 11. Disponível em: http://www.cremesp.com.br/?siteAcao=Jornal&id=364 Ao longo do mês de Maio/2004, vimos acompanhando uma série de quatro programas do “Fantástico” (Rede Globo), onde a Homeopatia foi tratada de forma superficial, preconceituosa, parcial e sensacionalista, sendo notória a tentativa das reportagens em desqualificá-la como especialidade médica, associando sua prática terapêutica à sugestão ou à crendice, de maneira a suscitar dúvidas no grande público quanto à sua eficácia, efetividade e eficiência. Privando-se da missão informativa, educativa e ética do ideal jornalístico, a edição do programa selecionou frases soltas de longas entrevistas de colegas homeopatas (nas quais buscaram explicar os pressupostos clínicos e científicos do modelo homeopático, distintos do paradigma convencional), incutindo nos ouvintes uma visão enviesada do conteúdo transmitido. Observando essa iniciativa “anti-homeopatia” (que se utiliza, como propaganda de marketing, de um vídeo patrocinado por um grupo com interesses escusos, centrado no desafio milionário de um mágico cético e realizado pela BBC de Londres), que vem percorrendo vários países nos últimos anos, ficamos questionando o porquê de semelhante investida contra uma prática médica que se sustenta há mais de duzentos anos sem qualquer respaldo institucional, contribuindo com uma abordagem holística e individualizante no entender e tratar o adoecimento humano, favorecendo a relação médico-paciente, minimizando o sofrimento de milhares de pacientes portadores de inúmeras doenças crônicas, apresentando um mínimo de efeitos adversos e com baixo-custo. Juntamente com a Acupuntura, a Homeopatia vem assumindo, nas últimas décadas, uma postura pioneira perante as demais práticas não-convencionais em saúde, trabalhando para conquistar o seu espaço junto aos sistemas de saúde mundial e brasileiro (reconhecida como especialidade médica desde 1980; incorporada ao SUS desde 1985; reembolsada pelas empresas de grupo; oferecida como disciplina eletiva em faculdades de medicina; realizando trabalhos de pesquisa nas áreas básica e clínica; etc.), apesar das dificuldades que encontra em ser aceita e se fazer entender perante a classe médica desconhecedora dos seus princípios. Segundo pesquisa realizada pelo convênio Fiocruz-CFM (Perfil dos médicos no Brasil, 1996), a homeopatia, como principal especialidade de atuação, ocupa o 16° maior contingente de profissionais dentre 61 especialidades analisadas, contando com mais de 15.000 médicos praticantes. Pesquisas sociais têm evidenciado o enorme interesse da população mundial por terapêuticas não-usuais, que mobiliza bilhões de dólares anualmente (N Eng J Med 1993, 328:246-52; JAMA 1998, 280:1569-75), em busca de uma melhor relação médico-paciente, através de tratamentos que englobem a pessoa em sua totalidade e sejam isentos dos efeitos adversos das drogas clássicas [JAMA 1998, 279:1548-53; J R Soc Health 2000, 120(1):42-6]. Como resultado da aprovação popular ao tratamento homeopático, observamos satisfeitos a reação do público ao programa, com centenas de telefonemas e e-mails indignados endereçados aos diversos conselhos regionais de medicina (CRMs) do país, solicitando uma ação destes órgãos em defesa da Homeopatia. Com o aumento da procura da população por práticas não-convencionais em saúde, a classe médica está começando a sentir a necessidade de suprir esta demanda, desviada em outros países para os terapeutas práticos não-médicos. Pesquisas mundiais vêm mostrando o interesse crescente dos médicos [Arch Intern Med 1995, 155:2405-8; Arch Pediatr Adolesc Med 1998, 152(11):1059-64; Arch Intern Med 2002, 162(10):1176-81] e dos estudantes de medicina [Compl Ther Med 1993, 1(4):32-3; Forsch Komp 1997, 5:284-91; Acad Med 2000, 75:571] pelo aprendizado destas terapêuticas ortodoxas. No aspecto econômico, pesquisas recentes vêm despertando insatisfação na indústria farmacêutica, evidenciando o baixo custo do medicamento e do tratamento homeopáticos, enfatizando a eficiência do método perante os tratamentos convencionais e contabilizando as perdas financeiras que a mudança de conduta dos usuários pode infringir aos grandes laboratórios [Br Hom J 2000, 89(1):20-2; Br Hom J 2000, 89(1):23-6; Eur J Health Econ 2002, 3(1):83; Value Health 2002, 5(6):468; Homeopathy 2003, 92(3):135-9]. Dando preferência às chamadas fantásticas que o desafio de um mágico, oferecendo um milhão de dólares, traria à audiência e ao ibope do programa, o editor deixou de citar as demais evidências científicas existentes no campo das pesquisas básica e clínica (que ele teve acesso por diversas fontes). Ao final do texto, além da referência sobre as evidências sócio-econômicas anteriormente citadas [1], o leitor encontrará a citação de uma revisão atual sobre a pesquisa em homeopatia [2], onde discorremos sobre as iniciativas e as dificuldades existentes na área. Apesar do reduzido número de pesquisas em homeopatia, quando comparado à produção científica convencional, que dispõe de fontes de financiamentos vultosas, a quantidade e a qualidade dos trabalhos homeopáticos vêm aumentando, despertando o interesse de pesquisadores isentos de preconceitos, que buscam respostas às evidências da clínica homeopática bi-secular. Infelizmente, este tipo de matéria jornalística distorce o verdadeiro intuito da homeopatia brasileira, que se esforça por cumprir seu papel junto à sociedade e às demais especialidades médicas, através de uma terapêutica que visa ampliar a mais elevada e única missão do médico, que é tornar saudáveis as pessoas doentes, o que se chama curar. Referências Bibliográficas 1) Teixeira MZ, Lin CA, Martins MA. O ensino de práticas não-convencionais em saúde nas faculdades de medicina: panorama mundial e perspectivas brasileiras. Revista Brasileira de Educação Médica, 2004; 28(1): 51-60. Disponível em: http://www.educacaomedica.org.br/UserFiles/File/2004/volume28_1/ensinos_de_praticas.pdf. 2) Teixeira MZ. Panorama da pesquisa em homeopatia: iniciativas, dificuldades e propostas. Diagnóstico & Tratamento, 2004; 9(3): 98-104. Disponível em |