Utilização de práticas não-convencionais em saúde nos EUA As publicações demonstram em todo o mundo uma procura crescente da população por métodos não-convencionais de tratamento. Cientistas americanos da Universidade de Stanford, em Palo Alto, observaram esta tendência, mediante um estudo em escala nacional onde foram entrevistadas 1.035 pessoas. Apesar de mais da metade da amostra (54%) estar satisfeita com o tratamento convencional, cerca de 39% dos pacientes recorreram também à métodos denominados 'complementares'. Os métodos não-convencionais de tratamento pesquisados foram a homeopatia e acupuntura, incluindo técnicas de relaxamento, quiropraxia, massagem, cinesioterapia, psicoterapia e dieta especiais. Quem mais procurou técnicas não-convencionais foram doentes com dores crônicas, patologias musculares, cefaléias, estados de ansiedade, fadiga crônica e problemas de audição, ocorrendo uma tendência de combinar várias práticas. Não houve correlação significativa na busca de terapia não-convencional em relação à sexo, raça, idade, número de consultas. Houve uma correlação intensa com formação acadêmica, onde 50% dos universitários utilizou métodos não-convencionais em comparação com 30% dos entrevistados que tinham bacharelado. O agravamento do estado de saúde, assim como a 'incurabilidade' da doença também aumentam a procura por tratamentos ditos alternativos. Segundo os autores, os resultados confirmam a hipótese de 'que os seguidores de terapias alternativas tem uma maior tendência a uma visão global da saúde no sentido de unicidade do organismo, psique e espírito e esperam esta atitude por parte dos profissionais'. Esta consideração pode levar à seguinte questão: até que ponto o interesse pelos métodos alternativos de cura são conseqüência real de uma mudança no entendimento da natureza do binômio saúde-doença, ou seja, uma mudança paradigmática cultural apontando valores mais integrais e espirituais no tocante à saúde do ser humano? Num outro estudo, Jonas (1996) fornece dados a respeito da prática das medicinas alternativas nos Estados Unidos, entre eles: - 1/3 dos americanos utilizaram medicina alternativa em 1990.
- 50% dos médicos alopatas fazem uso ou indicam a seus pacientes que procurem algum tipo de medicina alternativa.
- 80% dos estudantes de medicina gostariam de ter mais treinamento nessa área.
O National Institute of Health (NIH) investe anualmente US$ 40 milhões em pesquisas relacionadas à medicina alternativa. O Congresso Americano criou, em 1992, o Escritório de Medicinas Alternativas (OAM), dentro do NIH, para apoiar pesquisas, desenvolver programas e manter um banco de dados que conta com 90.000 referências. Segundo David Eisenberg (Eisenberg, JAMA, 1998), do Centro Médico Beth Israel Deaconess, de Boston, mais de 2/5 dos americanos vão recorrer a alguma espécie de terapia não-convencional no ano 2000. Uma pesquisa de 1997 estimou que ocorreram 629 milhões de consultas com terapeutas alternativos, que representa um aumento de 47% em relação a 1990 e quase 2/3 a mais de consultas do que clínicos alopatas. O gasto estimado nestes tratamentos beira os 30 bilhões de dólares. Dois exemplos do uso da medicina complementar, realizados nos Estados Unidos, podem ser citados (Eisenberg, JAMA, 1998) Ano | % de consultas em medicina complementar | Consultas por ano | Custo por ano | 1990 | 34% | 400 milhões | 14 bilhões | 1997 | 42% | Mais de 600 milhões | 27 bilhões* | * a maior parte do custo são de despesas não reembolsáveis. Nos EUA, mais de 75 escolas de medicina tem cursos no campo da medicina complementar, e os programas de seguros-saúde tem aumentado sua oferta de cobertura nesta área. A American Medical Association (AMA) recentemente dedicou um número inteiro de sua revista (JAMA) para abordar este tema. Referências bibliográficas 1. Eisenberg DM, Davis RB, Ettner S, et al. Trends in alternative medicine use in the United States 1990 – 1997: results of a follow-up natinal survey. JAMA 1998; 280: 784-787. 2. Eisenberg DM, Kesller RC, Foster C, et al. Unconventional medicine in the United States – prevalence, costs, and patterns of use. N Engl J Med 1993; 328: 246-252. 3. Jonas WB. Alternative medicine-learning from the past, examining the present, advancing the future. JAMA 1998; 280: 1616-1618. 4. Jonas WB. Safety in Complementary medicine. In: Ernst E, ed. Complementary medicine: an objective appraisal. Oxford: Butterworth-Heinemann, 1996: 126-149. Teixeira MZ. Utilização de práticas não-convencionais em saúde nos EUA. |