Plausibilidade do implausível: é possível que ultradiluições sem atividade biológica causem efeitos adversos? - IJHDR Teixeira MZ. Plausibility of the implausible: is it possible that ultra-high dilutions 'without biological activity' cause adverse effects? Int J High Dilution Res. 2013; 12(43): 41-43. Disponível em: http://www.feg.unesp.br/~ojs/index.php/ijhdr/article/view/628/632 http://www.bvshomeopatia.org.br/artigo/PlausibilidadeImplausivelUltradiluicoesSemAtividadeBiologicaCausemEfeitosAdversos-Trad-IJHDR.pdf Tradução O modelo científico homeopático sofre críticas constantes em vista de empregar pressupostos distintos e opostos ao modelo científico convencional, apesar de desenvolver constantemente estudos confirmando suas prerrogativas [1-3]. O alvo preferido dos críticos e céticos repousa sobre o ‘princípio da similitude curativa’ (‘semelhante cura semelhante’) e o uso das ‘ultradiluições’ (‘medicamentos dinamizados’). Enquanto o princípio da similitude está cientificamente fundamentado no efeito rebote (reação paradoxal) das drogas convencionais [4,5], sendo recentemente proposta a sua utilização terapêutica pela farmacologia moderna (‘paradoxical pharmacology’) [6-8], diversos estudos mostram atividades clínicas, biológicas e físico-químicas das ultradiluições em modelos experimentais [9]. Apesar destas evidências, muitos céticos questionam a ‘plausibilidade’ do modelo homeopático. Desconsiderando o ‘efeito biológico’ dos medicamentos homeopáticos, eles se reuniram em praças públicas de diferentes países com o objetivo de ingerir grandes doses dessas ‘implausíveis’ ultradiluições e mostrar que nada iria acontecer, porque elas não teriam o poder de causar efeitos adversos como os fármacos convencionais. Embora eles não tenham relatado qualquer distúrbio após essa ingestão maciça de medicamentos homeopáticos dinamizados, uma revisão sistemática recente sugere que eles devem ter sofrido graves consequências, como sugerimos no passado [10]. Com o intuito de desconsiderar a idéia generalizada de que a homeopatia ‘é segura para ser usada’ (não apresentando efeitos colaterais), Posadzki e cols. [11] realizaram uma revisão sistemática para avaliar criticamente a evidência sobre os efeitos adversos (EAs) da homeopatia descritos em relatos e série de casos publicados. Num total de 38 relatos de casos analisados, 30 descreveram EAs diretos dos medicamentos homeopáticos, englobando 1.142 pacientes submetidos a vários medicamentos e formas de tratamento (em sua maioria, medicamentos homeopáticos complexos em baixas potências). Relatando que “em 94,7% dos casos as potências utilizadas estavam abaixo da 12ª Centesimal (< 12C), o ponto além do qual a probabilidade de uma única molécula estar presente no medicamento se aproxima de zero”, os autores afirmaram que “na maioria dos casos, o possível mecanismo de ação dos EAs envolveria reações alérgicas ou ingestão de substâncias tóxicas”. Com esta abordagem, os autores pretenderam ‘desprezar os efeitos biológicos das ultradiluições’, porque se elas causassem EAs iria ser confirmada a ‘plausibilidade’ dos seus possíveis efeitos terapêuticos. No entanto, ensaios toxicológicos são necessários para afirmar que os EAs são uma consequência dos ‘efeitos tóxicos (alérgicos)’ das substâncias ou dos ‘efeitos imponderáveis’ das ultradiluições. Exemplificando a falácia da afirmação dos autores na análise de um relato de caso [12] citado na revisão, na qual sugeriram que um medicamento homeopático complexo indicado para o tratamento da cólica infantil (Gali-col Baby, GCB) teria causado ‘eventos fatais aparentes’ (ALTE, com ‘apnéia, cianose e asfixia’) [13] em consequência da ‘toxicidade dos ingredientes ativos’ (Citrullus colocynthis, Matricaria chamomilla, Bryonia alba, Nux vomica, Veratrum album, Magnesia phosphorica e Cuprum metallicum em potências entre 4C e 5C), Oberbaum e cols. [14] realizaram um ‘estudo toxicológico’ desses componentes evidenciando que “a ingestão das doses do complexo homeopático GCB foram de magnitude 10-13 vezes menores do que os relatados para causar reações tóxicas em seres humanos”, e que “houve fraca correlação entre os sintomas causados pelo GCB e os perfis toxicológicos dos componentes”. Como explicação alternativa, esses autores sugeriram que “quatro componentes (Veratrum album, Cuprum metallicum, Bryonia alba e Matricaria chamomilla) apresentam uma propensão média-alta para produzir pelo menos um dos cinco sintomas que definem um ALTE, quando administrados em diluições homeopáticas. Dois destes medicamentos (Veratrum album e Cuprum metallicum) apresentam uma propensão média-alta para produzir três dos quatro possíveis sintomas de um ALTE”. Em consequência dessa ‘análise toxicológica’, esses autores concluíram que “é improvável que um ALTE após a ingestão de GCB foi uma reação tóxica (alérgica) a qualquer um dos componentes da droga”, propondo a ‘teoria homeopática’ (manifestações patogenéticas) [15] como explicação mais plausível para essa ocorrência. Em vista desses resultados, pode-se inferir que um EA causado por medicamentos homeopáticos em potências ≥ 6C ‘estão mais intimamente relacionados com os efeitos imponderáveis das ultradiluições do que com os efeitos tóxicos (alérgicos) das substâncias’. Da mesma forma, outros relatos de casos citados na revisão descreveram EAs graves com potências desta magnitude, incluindo a ocorrência de ‘rash cutâneo com eosinofilia e grave envolvimento pulmonar’ após o uso de Sedativ PC (medicamento homeopático complexo com seis ingredientes em 6CH) [16], e a ocorrência de ‘doença cardíaca e câncer de bexiga’ com um medicamento homeopático complexo em altíssimas potências (Aconitum napellus, Baryta carbonica, Cantharis vesicatoria, Gambogia, Pulsatilla nigricans e Rhus toxicodendron em potências 1000c, M ou 10M) [17], descartando qualquer influência da ‘toxicidade das substâncias’. De forma análoga, em uma revisão sistemática sobre informações relacionadas a efeitos adversos de medicamentos homeopáticos, incluindo 19 relatos em ensaios clínicos controlados, 19 relatos de casos e 15 ensaios patogenéticos homeopáticos, Dantas e Rampes [18] concluíram que “a incidência média de EAs com os medicamentos homeopáticos (ultradiluições) foi maior do que com o placebo (9,4/ 6,1) em ensaios clínicos controlados”, incluindo, principalmente, dores de cabeça, cansaço, erupções de pele, tontura, disfunção intestinal como diarréia ou fezes amolecidas e, mais frequentemente, agravações dos sintomas após a administração dos medicamentos homeopáticos. Contrariando o falso ditado “se os medicamentos homeopáticos não fazem bem, mal também não fazem”, as evidências das manifestações de EAs graves com o uso inadequado de medicamentos homeopáticos complexos (em potências baixas) são um alerta para a necessidade de se realizar uma ‘boa prática clínica homeopática’, em conformidade com os fundamentos da ‘similitude terapêutica’ realizada em concordância com a ‘experimentação patogenética’ e os ‘medicamentos individualizados’. Por outro lado, permite a observação do efeito biológico das substâncias ultradiluídas, reiterando a validade científica do uso dos medicamentos ‘dinamizados’. Referências [1] Proceedings of the XXV GIRI Symposium, 2011 Nov05, Monaco. Int J High Dilution Res. 2011; 10(35). Disponível em: http://www.feg.unesp.br/~ojs/index.php/ijhdr/issue/view/66. [2] Proceedings of the XXVI GIRI Symposium, 2011 Sep04, Foz do Iguaçú (Brazil). Int J High Dilution Res. 2011; 10(36). Disponível em: http://www.feg.unesp.br/~ojs/index.php/ijhdr/issue/view/67. [3] Proceedings of the XXVI GIRI Symposium; 2012 Sep20-22, Florence (Italy). Int J High Dilution Res. 2012; 11(40). Disponível em: http://www.feg.unesp.br/~ojs/index.php/ijhdr/issue/view/93. [4] Teixeira MZ. Homeopathic use of modern drugs: therapeutic application of the organism paradoxical reaction or rebound effect. Int J High Dilution Res. 2011; 10(37): 338-352. Disponível em: http://www.feg.unesp.br/~ojs/index.php/ijhdr/article/view/456/542. [5] Teixeira MZ. Rebound effect of drugs: fatal risk of conventional treatment and pharmacological basis of homeopathic treatment. Int J High Dilution Res. 2012; 11(39): 69-106. Disponível em: http://www.feg.unesp.br/~ojs/index.php/ijhdr/article/view/552/561. [6] Bond RA. Is paradoxical pharmacology a strategy worth pursuing? Trends Pharmacol Sci. 2001; 22(6): 273-276. [7] Bond RA, Giles H. For the love of paradox: from neurobiology to pharmacology. 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