HOMEOPATIA:
Ciência, Filosofia e Arte de Curar


Interesse Geral 

Homeopatia: prática médica vitalista - Entrevista na Revista Universo Espírita 

Homeopatia: prática médica vitalista - Entrevista na Revista Universo Espírita

Teixeira MZ. Homeopatia: prática médica vitalista. Revista Universo Espírita nº 65, Maio/2009. Seção Maiêutica. Entrevista realizada por Rita Foelker.

 

Antes de cursar Medicina, o paulistano Marcus Zulian Teixeira, 51 anos, graduou-se em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queirós - USP e dedicou-se durante três anos à prática da agricultura orgânica-biodinâmica. Nesse período, interessou-se pela leitura de obras relacionadas às Medicinas Antroposófica, Homeopática e Tradicional Chinesa, práticas médicas que se propõem a entender e tratar o adoecimento humano segundo uma abordagem vitalista, holística e integrativa. Dedicou-se ao estudo destas racionalidades médicas vitalistas e acabou entrando na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) em 1986, aprofundando o estudo dessas práticas não-convencionais em saúde através de cursos paralelos ao currículo convencional, e escolhendo a Homeopatia como especialidade médica exclusiva desde 1995. É autor dos livros Semelhante Cura Semelhante e A Natureza Imaterial do Homem, ambos pela Editorial Petrus. O Dr. Marcus conversou com a Universo Espírita sobre a medicina homeopática e sua forma de compreender o ser humano e a cura, na entrevista que você vai acompanhar agora.

 

Você escreveu um livro intitulado A Natureza Imaterial do Homem. Que natureza seria esta?

Todas as civilizações antigas propagavam a crença em uma natureza imaterial humana associada à materialidade grosseira do corpo físico, citando termos correlatos às definições atuais de espírito, alma, mente, força vital etc. em suas filosofias e religiões, que representavam entidades energético-espirituais com ascendência sobre a entidade orgânico-material. Até o século XIX, imperava na Medicina a noção de um princípio vital (concepções vitalistas) responsável pela manutenção do equilíbrio das funções orgânicas e da saúde, que foi substituído no século XX pelos princípios cartesianos que localizaram a causa das doenças nos órgãos, nos tecidos e nas células. Concepções espiritualistas antigas e modernas, incluindo a Doutrina Espírita, dividem esta natureza imaterial em instâncias hierárquicas distintas, com características e funções semelhantes segundo as várias linhas de pensamento, variando apenas a terminologia empregada: associam como uma unidade substancial e indissociável o corpo físico ao princípio vital (pranamayakosha, linga sharira, ba, tsri, vis medicatrix naturae, pneuma, aethér, quinta essentia, ruh, múmia, archeus, duplo etérico, corpo etéreo, corpo vital, força vital, fluído universal etc.); reúnem os desejos, as emoções e os sentimentos humanos no corpo de desejos (manomayakosha, kama rupa, khaba, tinh, alma afetiva, alma sensitiva, nafs, corpo sidéreo, entidade astral, corpo astral, perispírito etc.); agrupam os pensamentos e o intelecto humano no corpo mental (vijuanamayakosha, manas, akhu, than, alma intelectiva, aql, adesh, mente, organização do eu, perispírito etc.); como instância de hierarquia máxima, atribuem diversas denominações ao espírito (atmamayakosha, atma, atmu, ratio, alma estimativa, qalb, spiritus etc.). Nesta obra, buscamos estudar comparativamente as diversas escolas médicas e filosóficas que valorizam estes veículos sutis de manifestação da individualidade humana, evidenciando através das semelhanças conceituais encontradas que esse conhecimento iniciático provém de fonte primordial comum.

 

De acordo com a Homeopatia, o que são doenças e como elas surgem?

Samuel Hahnemann, que fundou a Homeopatia em 1796, define doenças em seu Organon como “alterações do corpo e da alma, reconhecíveis exteriormente através dos sinais e sintomas mórbidos, isto é, desvios das anteriores condições de saúde do doente atual”. Na mesma obra, ele descreve a forma como elas surgem, segundo sua concepção filosófica vitalista: “Quando o homem adoece é somente porque, originalmente, esta força de tipo não-material presente em todo o organismo, esta força de atividade própria (princípio vital) foi afetada através da influência dinâmica de um agente morbífico, hostil à vida; somente o princípio vital afetado em tal anormalidade pode conferir ao organismo as sensações adversas, levando-o, assim, a funções irregulares a que damos o nome de doença”. De forma análoga, a cura das doenças ou o retorno ao estado de saúde estariam relacionados ao reequilíbrio deste princípio vital.

 

Quais são os pilares da Homeopatia?

A Homeopatia está fundamentada em quatro pressupostos científicos: princípio da similitude, experimentação dos medicamentos em indivíduos sadios, emprego de medicamentos dinamizados (ultradiluições) e prescrição de substâncias simples (medicamento único). Segundo o princípio da similitude curativa (similia similibus curentur), substâncias que causam sintomas nos indivíduos sadios podem ser utilizadas para tratar sintomas semelhantes nos indivíduos doentes. Para descobrir os sintomas que as substâncias medicinais causam no ser humano, a fim de aplicar o princípio da similitude, Hahnemann passou a experimentá-las em indivíduos sadios, compilando para a Matéria Médica Homeopática todos os tipos de sintomas (mentais, gerais e físicos) despertados nos experimentadores. Para evitar as agravações que o emprego de medicamentos causadores de sintomas semelhantes poderia despertar nos pacientes, ele passou a utilizar medicamentos dinamizados (diluídos e agitados repetidamente), observando que este tipo de preparação despertava outros poderes intrínsecos das substâncias, permitindo atuar em aspectos idiossincrásicos da individualidade enferma. Como a experimentação em indivíduos sadios sempre foi realizada com substâncias simples, sendo impossível prever os efeitos da mistura de substâncias sem a experimentação das mesmas, a prescrição do medicamento único é uma prerrogativa essencial à eficácia e à segurança do tratamento homeopático.

 

Quais os mecanismos orgânicos da recuperação da saúde provocados pelo remédio homeopático?

O papel do medicamento homeopático é estimular e direcionar uma reação do organismo contra os desequilíbrios instalados, reequilibrando as funções orgânicas. Desta forma, busca-se estimular uma reação integrativa (psico-neuro-imuno-endócrino-metabólica), desde que o medicamento consiga abranger a totalidade de sintomas característicos do paciente.

 

Como a Homeopatia atua na dimensão imaterial do ser humano?

Em vista das ultradiluições do medicamento homeopático dinamizado, que apresenta em sua natureza a “informação vital” da substância original, a Homeopatia atua no reequilíbrio da unidade substancial formada pelo corpo físico e a força vital. Este reequilíbrio orgânico-vital se manifesta nas demais instâncias superiores, modulando as suscetibilidades emocionais e psíquicas, e transmitindo uma sensação de bem-estar geral ao indivíduo.

 

Por que, sem o tratamento homeopático, a doença continua seu rumo?

Todas as doenças crônicas são alterações nas sensações e funções orgânicas que foram incorporadas gradativamente à fisiologia individual, em consequência da insuficiente reação vital. O papel do medicamento homeopático é estimular e direcionar a reação vital contra as distonias instaladas, permitindo que o organismo reaja contra os seus próprios distúrbios.

 

Samuel Hahnemann compreendia o homem como constituído de corpo, força vital e espírito racional. Todo homeopata acredita numa essência espiritual do ser humano?

O tratamento homeopático individualizado é uma técnica terapêutica experimental na qual se emprega um medicamento dinamizado que, ao ser experimentado em pessoas sadias, despertou sintomas semelhantes à totalidade de sintomas do indivíduo enfermo. Não é necessário que o médico homeopata acredite na essência espiritual do ser humano para exercer uma boa prática clínica homeopática, desde que aplique os pressupostos corretamente.

 

Força vital é um conceito importante na Homeopatia. O que é força vital? Como funciona?

Apesar de difundir uma concepção filosófica vitalista para o entendimento do processo saúde-doença, Hahnemann não se interessou em conjeturar sobre a natureza íntima e os mecanismos de ação da força vital. Ele escreveu: “Como a força vital leva o organismo a desenvolver manifestações mórbidas, isto é, como ela cria a doença? O artista da cura não pode tirar proveito algum deste como e porquê, permanecendo a mesma eternamente oculta a ele”. Limitou-se a empregar o método de tratamento pela similitude sintomática, despertando uma reação vital curativa, administrando aos indivíduos enfermos as substâncias dinamizadas que causaram sintomas semelhantes em indivíduos sadios. Na obra A Natureza Imaterial do Homem eu busquei aprofundar o entendimento da força vital homeopática através do estudo comparativo com outras concepções filosóficas.

 

Como se explica o efeito do medicamento homeopático quando, em virtude de uma alta dinamização, não resta mais nenhuma molécula da substância original utilizada no preparo do remédio?

Inúmeras pesquisas demonstram que o método farmacotécnico da dinamização, em que a substância original é submetida a diluições e sucussões sucessivas, permite que a “informação vital” dos princípios ativos originais seja incorporada à solução aquosa e transmitida ao paciente, apesar da ausência de moléculas.

 

Hahnemann indicou o Magnetismo Animal como tratamento em sua obra fundamental, o Organon da Arte de Curar. Quais as relações entre as duas ciências?

Desde o início dos seus escritos, Hahnemann admite a atuação de outras forças imateriais (magnetismo mineral, eletricidade, galvanismo etc.) no corpo do enfermo, dentre elas “a força heróica do magnetismo animal, influência imaterial de um corpo humano vivo sobre outro”, comparando sua natureza às doses infinitesimais dos medicamentos homeopáticos, embora não empregasse o princípio da similitude em sua aplicação. Nos § 288 e 289 do Organon descreve a utilização do “mesmerismo curativo”, dividindo-o em “positivo” e “negativo”, ocorrendo no primeiro “um afluxo dinâmico de maior ou menor força vital ao paciente debilitado”, enquanto no segundo temos uma ação contrária, ocorrendo uma “descarga da força vital acumulada em excesso, em partes isoladas do organismo das pessoas”. Alerta para o perigo da utilização do mesmerismo positivo quando empregado de forma abusiva e reprovável, em indivíduos sensíveis, para despertar o sonambulismo e a clarividência.

 

Qual a diferença entre os diagnósticos do médico alopata e homeopata?

Além dos diagnósticos clínicos do médico alopata, o médico homeopata deve realizar o levantamento das diversas suscetibilidades individuais (psíquicas, emocionais, imaginativas, oníricas, climáticas, alimentares, físicas etc.), traduzidas em manifestações sintomáticas, a fim de selecionar o medicamento mais apropriado.

 

Qual a diferença entre a atuação do remédio alopático e o homeopático no organismo?

Enquanto o medicamento alopático atua segundo o princípio de cura pelos contrários (contraria contrarius curentur), suprimindo momentaneamente os sintomas incomodativos da doença, o medicamento homeopático atua segundo o princípio de cura pelos semelhantes (similia similibus curentur), buscando estimular o próprio organismo a reagir contra os sintomas incomodativos.

 

São compatíveis os tratamentos alopáticos e homeopáticos?

No início do tratamento homeopático, medicamentos homeopáticos e alopáticos devem ser utilizados de forma adjuvante, desde que estes últimos sejam imprescindíveis à manutenção das funções vitais do organismo. Ao longo do tratamento homeopático, com avaliações e prescrições periódicas, após atingirmos a similitude ideal (medicamento simillimum), suspendemos gradativamente os medicamentos alopáticos, desde que a cronicidade e a gravidade da doença assim o permita.

 

No livro A Natureza Imaterial do Homem, um capítulo é dedicado à concepção espírita do ser humano. Qual seu contato com o Espiritismo? Ele surgiu em razão da escrita da obra ou é anterior?

O contato com o Espiritismo e demais filosofias reencarnacionistas surgiu na adolescência, buscando respostas a uma série de questionamentos pessoais.

 

Existe comprovação científica dos resultados da Medicina Homeopática?

No trabalho de comprovação científica da Homeopatia, existem duas linhas de pesquisas principais: pesquisas nas áreas básicas da Ciência (físico-química, imunologia etc.), que buscam explicar e evidenciar a atuação da “informação vital” em modelos biológicos, apesar da ausência de moléculas da substância original no medicamento dinamizado; por outro lado, através de ensaios clínicos controlados, pesquisas clínicas buscam evidenciar a eficácia do tratamento homeopático numa série de doenças. Revisões sobre estas pesquisas científicas podem ser acessadas em www.homeozulian.med.br.

 

Como é a aceitação da Homeopatia nos meios acadêmicos?

Pela desinformação dos colegas alopatas acerca dos princípios homeopáticos e das pesquisas existentes, o preconceito perante a Homeopatia é grande, apesar dos esforços para que o ensino da Homeopatia seja incorporado ao currículo fundamental das faculdades de Medicina, já que ela é uma especialidade médica reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) desde 1980.

 

A Homeopatia também é eficiente no tratamento de animais?

A Homeopatia também é uma especialidade da Medicina Veterinária, atuando eficazmente no tratamento de diversas enfermidades das várias espécies animais.

 

Você participou como docente do Curso Medicina Além do Corpo, promovido pelo Departamento Científico da FMUSP? Qual o público alvo deste curso? Quais eram as expectativas e como foi a receptividade?

O Curso Medicina Além do Corpo surgiu por iniciativa dos acadêmicos do Departamento Científico da FMUSP em 2004, sendo oferecido anualmente com o intuito de trazer informações básicas das práticas não-convencionais em saúde aos estudantes das áreas da saúde, apresentando grande receptividade.

 

Em seu livro, você trata também da Medicina Tradicional Chinesa. Ela tem pontos em comum com a Medicina Homeopática?

A Medicina Tradicional Chinesa é uma racionalidade médica vitalista que apresenta grande analogia com o entendimento do processo saúde-doença e com a proposta terapêutica da Medicina Homeopática, ou seja, acredita que a doença é fruto do desequilíbrio da força vital (Tsri ou Chi) que circula em canais de energia espalhados pelo corpo, buscando equilibrá-la através da inserção de agulhas em pontos específicos (Acupuntura).

 

A Homeopatia é uma especialidade médica reconhecida pelo CFM desde 1980. No entanto, ela poderia ser considerada mais que isso. Talvez um paradigma de uma nova medicina, que rompe com diversos conceitos presentes na visão hoje predominante no Ocidente. Que pensa sobre isso?

A Homeopatia traz contribuições aos conceitos médicos convencionais através de uma prática médica vitalista, humanística e holística. No entanto, a fim de que o tratamento homeopático seja eficaz, é necessária uma individualização do medicamento, que pode demorar mais ou menos tempo, obrigando o médico homeopata, durante este período, a respeitar o tratamento alopático imprescindível à manutenção das funções vitais do organismo. Desta forma, tanto a Alopatia quanto a Homeopatia são necessárias, dependendo de cada caso e situação, estando no paradigma da Nova Medicina, a meu ver, as utilizações conscientes, respeitosas e coadjuvantes de todas as práticas médicas que visem contribuir ao bem-estar e à saúde dos enfermos.

 

Para saber mais:

Semelhante Cura Semelhante: o princípio de cura homeopático fundamentado pela racionalidade médica e científica, de Marcus Zulian Teixeira, Editorial Petrus, 1998.

A Natureza Imaterial do Homem: estudo comparativo do vitalismo homeopático com as principais concepções médicas e filosóficas, de Marcus Zulian Teixeira, Editorial Petrus, 2000.

 



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