Importância da prova de título de especialista em homeopatia - Gazeta Homeopática (AMHB) Teixeira MZ. Importância da prova de título de especialista em homeopatia. Gazeta Homeopática (AMHB) 2001; 9(25): 7. Com a proximidade da época de inscrição para a Prova de Título de Especialista em Homeopatia, promovida pelo consórcio entre AMHB, AMB e CFM, ressurge a discussão sobre a validade da mesma, assim como ao conteúdo e à forma como ela é realizada. Sem me ater às questões específicas da sua elaboração, que vem sendo zelosamente conduzida há mais de dez anos por uma comissão específica da AMHB, gostaria de chamar a atenção para a importância da conscientização dos colegas homeopatas em aderirem a este exame seletivo, em prol do fortalecimento da nossa especialidade. Num momento em que a Homeopatia Brasileira, reconhecida como especialidade médica há mais de vinte anos, vem buscando se aproximar e assumir seu papel dentro do meio acadêmico e científico nós devemos refletir sobre a qualidade da formação dos médicos homeopatas, que irão representar a classe homeopática perante a população e os demais colegas. Dessa forma, o exame de qualificação na especialidade poderia funcionar como um indicador da qualidade e do desempenho dos serviços formadores, desde que os mesmos incentivassem seus alunos a participarem de semelhante avaliação. Por outro lado, com um número expressivo de especialistas reconhecidos pela AMB e pelo CFM, a homeopatia se fortaleceria, exercendo maior pressão sobre as associações de classe, num momento em que buscam diminuir o número de especialidades médicas para se adaptar às exigências do Mercosul, questionando a validade da especialidade homeopática, pensando em alocá-la como sub-especialidade dentro da Clínica Médica. Ao ler um artigo publicado na Revista Diagnóstico & Tratamento, da Associação Paulista de Medicina, sobre a prova para título de especialista em ortopedia1, resolvi reavivar este assunto de extrema importância para as especialidades médicas que se interessam pelo reconhecimento e pelo fortalecimento ético e científico. Na matéria escrita pelo Prof. Dr. Claúdio Santili, Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia Pediátrica, podemos exemplificar no modelo de auto-avaliação da especialidade ortopédica um ideal a ser buscado pela especialidade homeopática. Apesar da ortopedia ser reconhecida como especialidade médica há mais de trinta anos, com atuação específica e única em inúmeras enfermidades humanas, a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) vem se empenhando, desde a década de 70, em aperfeiçoar 'um mecanismo de geração e formação de profissionais com qualificação educacional mínima na especialidade', criando a Comissão de Ensino e Treinamento (CET) com a finalidade de assegurar um ensino de qualidade aos residentes de ortopedia. Essa comissão, através de visitas regulares, inspeciona as instalações físicas (qualidade do hospital ou clínica, material didático, biblioteca, etc.) e as condições humanas (corpo clínico qualificado, dedicação ao ensino, reuniões clínicas, etc.) das Instituições que pleiteiam o credenciamento para a formação dos residentes, que, mesmo sendo reconhecidas pelo MEC, só serão credenciadas pela SBOT se apresentarem as características mínimas exigidas. Anualmente, os residentes de todas as entidades formadoras são avaliados por uma prova de abrangência ampla, aplicada no mesmo dia e no mesmo horário em todo o território nacional: 'Os cartões de respostas, identificados apenas pelo código do serviço e com o nível do residente, são analisados e seus resultados são divulgados na forma de ranking nacional por nível de formação'. Além desta avaliação periódica da qualidade do ensino das diversas entidades formadoras, a CET organiza o exame para a obtenção do título de especialista, constituído por uma prova escrita inicial e uma prova prática final, na qual os candidatos são argüidos oralmente perante situações clínicas ou teóricas em duas sessões de uma hora cada, completando a avaliação prática com um exame semiológico em que deve identificar alterações clínico-ortopédicas. Apesar da aprovação na prova de título ser individual, para o controle da qualidade do ensino a SBOT valoriza muito mais o desempenho do serviço formador, que deve aprovar, a cada exame, mais da metade dos seus candidatos: 'Caso contrário, o serviço entra em moratória e, no ano subseqüente, se não aprovar mais que a metade dos residentes referendados é automaticamente descredenciado, não mais podendo formar residentes pela SBOT'. Como podemos observar, comparativamente a outras especialidades, não procede a reclamação dos colegas homeopatas quanto ao excesso de rigorismo na elaboração da prova de título de especialista para a homeopatia, sendo injustificável a mínima porcentagem de médicos que, após passarem por um curso de formação, se submetem à mesma (sem contar aqueles colegas com função didática em muitas Instituições, que ainda não passaram por esta avaliação!). Por outro lado, apesar da fragilidade do nosso modelo de instrução, não temos qualquer mecanismo para avaliar e controlar a qualidade do ensino ministrado pelas entidades formadoras homeopáticas, estando a formação do médico homeopata entregue a pessoas ou entidades que se disponham a tanto, muitas vezes sem um corpo clínico médico. Será que isto está certo? Como nos igualarmos às demais especialidades médicas, exigindo os mesmos direitos, se não assumimos os mesmos deveres na formação dos nossos profissionais? Por toda discriminação de que somos alvo, não deveríamos nos esmerar no ensino e no preparo do médico homeopata, buscando uma qualidade superior aos demais? O cuidado não deveria ser redobrado, por atuarmos como médicos 'generalistas' numa gama incontável de enfermidades humanas? A porcentagem de prática clínica dos cursos de formação não deveria ser muito superior à que existe, como ocorre com as demais especialidades, exigindo uma reformulação do currículo? Passamos por treinamento específico para casos agudos e graves durante nosso período de instrução, que nos habilite a atuar nesta área em nossos consultórios? De que valem milhares de médicos homeopatas sem uma formação digna que honre o nome da Homeopatia? Estamos realmente interessados com o futuro da homeopatia, nossa opção de trabalho na profissão médica, ou pensamos apenas em interesses imediatistas? Por estas e outras reflexões, considero de fundamental importância a Prova de Título para Especialista em Homeopatia, estando nela o único instrumento existente de qualificação do médico homeopata e do ensino a que foi submetido. Finalizando, gostaria de citar a reflexão do Prof. Santili sobre a importância de tanto trabalho e rigor no exame de qualificação do profissional e na avaliação das entidades formadoras: 'Porque na realidade o compromisso médico para com o bem-estar do paciente exige dedicação e conhecimento. Porque o saber aplicado a cada situação de decisão médica reflete o zelo, o afinco e a competência tão necessários ao bem-estar de cada indivíduo. É, apenas, e simplesmente por isso, que a Ortopedia Brasileira investe na formação de novos especialistas, sentindo-se plena e realizada após cada nova turma de colegas que se forma e conquista o mercado de trabalho. Em nome da Ortopedia Brasileira, a certeza do cumprimento ético da nossa função científica, pois é ético para o médico dar o melhor ao seu paciente e, nisso, a Ortopedia Brasileira pode considerar-se atual e consonante com os anseios sociais de bem servir a população brasileira. Estamos aptos, estamos prontos: somos especialistas pela SBOT!' Estamos aptos, estamos prontos: vamos fazer a prova de título e nos tornar especialistas pela AMHB? Referência Bibliográfica 1) Santili C. Título de especialista: para a ortopedia, uma questão de ética. Diagnóstico & Tratamento 2001; 6(1): 44-5. |